[FP] Yukino Takigawa

    Não há muito o que dizer sobre um garoto que teve tudo desde o momento em que nasceu. Sendo o único herdeiro de uma família muito rica e influente em Loguetown, Yuki sempre recebeu muitos mimos, carinho e atenção, assim como todos os brinquedos e bens materiais que viesse a desejar. Mas junto com o conforto proporcionado pelo dinheiro também vinha uma grande pressão e responsabilidade quanto as obrigações por carregar o sobrenome Takigawa. O garoto sempre foi muito calado e reservado, mas se esforçava muito para atingir as expectativas que seus pais criavam para si, sendo assim excepcionalmente obediente. Com o passar do tempo, Yuki foi demonstrando uma sensibilidade singular para as sutis nuances da música, coisa que seus pais não demoraram a perceber e muito menos a incentivar. Com seis anos de idade, o jovem Takigawa ganhou seu primeiro instrumento musical - e também o instrumento pelo qual desenvolveu maior afinidade - : um violino. Recebeu aulas particulares em casa com os melhores professores da cidade, e em menos de um ano o garoto já estava inserido na orquestra ao lado de músicos profissionais. Yukino indubitavelmente possuía um dom.
    Os anos posteriores passaram sem grandes mudanças, até que quando o garoto atingiu dezesseis anos de idade seus pais começaram a comentar sobre a ideia de realizar um casamento arranjado com a filha mais nova de uma outra poderosa família local. Pensar naquilo começou a deixar Yuki extremamente incomodado, mas, além disso, o sentimento mais intenso que sentia era confusão. Não sabia o porquê, mas não conseguia gostar da ideia de se casar apenas para aumentar o poder de ambas as famílias. Também não conseguia sequer se imaginar feliz vivendo ao lado de Ayame pelo resto de sua vida. Foi então que percebeu que não gostava de garotas da forma que "deveria" e que seus pais pensavam, e a simples ideia de desapontá-los a esse ponto o fez guardar aquele sentimento no peito durante dois anos.
     Conforme seu aniversário de dezoito anos se aproximava, a data prevista para o casamento também ficava mais próxima, e como consequência Yuki aos poucos foi sendo engolido pela depressão. O garoto mal tocava em seu violino para praticar, e nas raras vezes que o fazia só conseguia tocar músicas que refletiam sua melancolia. Não queria se casar; não podia; mas como iria dizer isso para seus pais enquanto os via sorrindo tão ansiosamente pelo casamento? Foi então que tudo começou a desabar. Uma semana antes da cerimônia, o patriarca da família Takigawa sofreu um ataque cardíaco e infelizmente não resistiu. O ocorrido tornou as coisas ainda mais difíceis para o músico, pois além do clima denso que se instalou em sua casa a partir do trágico evento tê-lo deixado ainda mais emotivo, ele não conseguia parar de pensar que seu pai morreu desejando que ele se casasse com Ayame. Yuki sabia que não seria feliz ao lado dela, assim como sabia que também não seria capaz de fazê-la feliz; não era justo, mas tudo dizia que era algo que deveria ser feito.
     No dia da cerimônia, já devidamente arrumado de frente para o espelho, o jovem de cabelos azulados encrava seu reflexo com lágrimas nos olhos. Seu coração não estava acelerado, mas parecia querer se despedaçar a cada novo batimento. Lembranças de seu pai não deixavam de invadir-lhe a mente, até que de repente o som de tímidas batidas na porta afastaram todos os pensamentos de sua mente. O noivo apressou-se para secar as lágrimas nas mangas do terno que usava e logo deu permissão para quem quer se fosse para entrar. Quando a porta se abriu sua mãe adentrou o cômodo com um pequeno sorriso de canto, tão linda quanto uma deusa naquele vestido lilás. Algo em seus olhos estava diferente, ela também parecia ter chorado recentemente e não demorou para fechar a porta atrás de si. Confuso e um tanto apreensivo, Yuki perguntou-lhe o que havia acontecido, e ali iniciou-se uma longa conversa. Hakaze, a mãe de Yukino, disse que sabia o que estava acontecendo com ele e que não havia motivos para se preocupar. Disse que apenar de ser o que ela anteriormente gostaria, ele não precisava se casar com Ayame se não quisesse. Tudo o que ela queria era que Yuki fosse feliz, e se isso significasse não unir as duas famílias da forma que todos esperavam era um preço justo a se pagar.
     Ambos passaram longos minutos naquele quarto, conversaram, choraram, se abraçaram, e ao saírem de lá um laço mais forte do que nunca havia sido formado entre eles. O casamento foi cancelado, mesmo a família da noiva não gostando muito da ideia. Yuki e Ayame se tornaram bons amigos, e posteriormente ela lhe contou que de certa forma ficou feliz pelo casamento não ter acontecido, pois estava apaixonada por um outro rapaz. Pouco tempo depois, o jovem Takigawa voltou para a orquestra e decidiu que gostaria de percorrer o mundo espalhando a música por onde passasse.
    Enquanto voltava de uma de sua apresentações, tarde da noite, o músico viu um senhor de idade caminhando apreensivamente pelas ruas com uma pequena caixa em mãos. Ele parecia nervoso e não parava de olhar para os lados, até que fixou os olhos si e com certa pressa vei oao seu encontro. O senhor entregou-lhe a caixa e disse que não era seguro para ele estar em posse dela. Confuso e sem entender muita coisa, Yuki segurou o recipiente e - antes que pudesse perguntar-lhe alguma coisa- viu o senhor se afastar na direção contrária. Sem outra escolha, o garoto levou a suspeita caixa para casa, onde sua curiosidade o fez abri-la. O que encontrou em seu interior nada mais era do que uma fruta com formato e coloração estranhos. Nunca havia ouvido falar das frutas do diabo, e na inocência decidiu prová-la. O gosto era literalmente o pior que já havia sentido em toda a sua vida, mas a partir de então estranhas habilidades começaram a se manifestar através do jovem músico.